Traficantes de pessoas chegam a cobrar US$ 2 mil para trazer haitianos, que também sofrem extorsão de policiais e taxistas no Peru e na Bolívia. Rede de corrupção inclui venda de vistos e outros documentos falsificados
Wilkenson Samsom, 19 anos, vive com o pai em Encantado. Ambos trabalham em frigorífico da Dália Alimentos. Para realizar o sonho da vida melhor, o jovem teve de pagar US$ 300 a coiotes e policiais peruanos. Situação semelhante ocorreu com Roldy Julien, 25 anos, presidente da Associação Haitiana de Encantado. Ele fez a rota da maioria dos seus compatriotas: foi até Quito, no Equador, e lá tomou um ônibus que atravessou parte do país, ingressou no Peru e chegou até a fronteira do Brasil, entrando pelo Acre.
No Peru, com quatro amigos, foi extorquido duas vezes. Na primeira, o quarteto teve de pegar 500 sóis (moeda peruana) e mais US$ 300. Receberam um salvo-conduto. Dias depois, perto do Brasil, foram abordados novamente. Veio a notícia de que o papel que tinham em mãos já não valia mais. Dessa vez, Julien foi forçado a pagar sozinho a quantia de US$ 200. Seu passaporte ainda ficou apreendido por uma semana, tempo em que ele precisou se desdobrar com o dinheiro que lhe restava para garantir teto e comida.
— Não sei se tem ladrão no Peru. Mas parece que a polícia é pior — desabafa Julien, que, no Rio Grande do Sul, perdeu três dedos da mão direita em um acidente de trabalho.
Os relatos se repetem desde 2010, quando explodiu a nova imigração para o Brasil. Em maio de 2011, 20 haitianos recorreram à Polícia Federal em Tabatinga (AM), denunciando um compatriota deles chamado Repert Julien, 28 anos, que teria descumprido promessa de hospedagem paga por eles. Em 5 de julho daquele ano, os federais prenderam Julien, que cobrava até US$ 2 mil para trazer haitianos do Peru ao Brasil. Foi o primeiro inquérito de uma série.
Nenhum comentário:
Postar um comentário