sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Cicatriz Alegretense: A esquina onde foi assassinado o vice presidente Farroupilha

Uma esquina que guarda o misticismo da Guerra dos Farrapos em Alegrete


de Zero Hora
O fazendeiro Manoel Paoli dos Santos aprecia caminhar pelas vias do Alegrete, esquadrinhar cada recanto, para contemplar a cidade e manter a forma que exibe aos 88 anos. Mas há um lugar que lhe provoca certa inquietação, por vezes um leve estremecimento: o número 23 da atual Rua Vasco Alves, diante da Igreja Matriz, onde foi assassinado o vice-presidente da República Rio-Grandense,Antônio Paulino da Fontoura.
O crime ocorreu há 171 anos, no distante 3 de fevereiro de 1843, mas abriu uma cicatriz no Alegrete, que ainda incomoda os moradores mais antigos. Paoli soube do episódio quando tinha 13 anos, por intermédio do avô, Manoelino dos Santos, dono da Estância da Árvore. Nunca esqueceu.
– Quando passo aqui, recordo – diz.
Quando Paulino da Fontoura foi morto com um tiro, Alegrete era a terceira capital da República Rio-Grandense – antes a sede fora em Piratini e Caçapava do Sul. Realizara uma Assembleia Constituinte, para fixar as leis que regeriam a nação recém-emancipada do Império do Brasil. Naquele momento, uma facção de deputados se insurgiu contra o chefe máximo dos farrapos, Bento Gonçalves, acusando-o de tirano e cúmplice de atos de corrupção.
O clima político no Alegrete estava envenenado.  Exaustos e em minoria, os farroupilhas não conseguiam deter a ofensiva imperial, comandada por Luís Alves de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias), enviado à província para sufocar a guerra de secessão. Os legalistas já somavam 20 mil homens, enquanto os rebelados tinham pouco mais de mil combatentes em condições.
Ao final da revolução, prevaleciam as intrigas, os mexericos e as traições. Houve quem insinuasse que Bento Gonçalves era o mandante do homicídio, porque era hostilizado politicamente por Paulino. A versão mais plausível, no entanto, é de que o vice-presidente fora vítima de um marido ciumento, pois se encontrava secretamente com certa dama casada.
Nunca se descobriu quem disparou o tiro de pistola contra Paulino, na calada da noite, da janela do casarão que existia na Rua Vasco Alves (hoje é um edifício de apartamentos). O vice-presidente morreu 10 dias depois e foi enterrado em 14 de fevereiro, como ficou registrado no livro de óbitos, disponível no Centro de Pesquisa e Documentação do Alegrete: “A 14 dias do presente mês foi sepultado Antônio Paulino da Fontoura, 41 anos, solteiro, filho do brigadeiro Antônio Pinto da Fontoura e de dona Eufrásia”.
No obituário, uma observação que define o mistério em torno do caso: “Falecido por inimigos ocultos”.
Uma mazorca à la argentina
O assassínio jamais foi esclarecido. O historiador e genealogista Homero Dornelles, 45 anos, buscou um eventual processo judicial atrás de documentos – afinal de contas, o morto era ninguém menos que o vice-presidente de um país –, mas nada encontrou.
– Não se provou, até hoje, quem foi o autor do tiro e qual a motivação – informa Dornelles, diretor do Museu do Gaúcho.

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