O Diário Gaúcho localizou o motorista de ônibus filmado durante uma briga de trânsito nas ruas da Capital. O vídeo foi divulgado na quinta-feira. As imagens mostram o momento em que o funcionário da Carris, armado com um pedaço de ferro retirado do coletivo, destrói vidros de um Palio. Os dois condutores haviam se desentendido pouco antes.
Em seu relato, o funcionário público garante que só atacou o carro porque foi agredido. A redação localizou também o dono do Palio, que marcou entrevista para duas horas depois a fim de dar sua versão sobre o caso. Porém, não atendeu mais o celular (foram várias ligações) nem retornou as chamadas. Confira o que disse o motorista de ônibus.
Diário Gaúcho - Como estava sendo teu dia de trabalho naquela quinta-feira?
Motorista - Era meu último dia de serviço, já estava com férias agendadas. Estava bem tranquilo. Era começo da manhã, por volta das 9h, e era minha segunda volta. Não estava estressado nem cansado.
Motorista - Era meu último dia de serviço, já estava com férias agendadas. Estava bem tranquilo. Era começo da manhã, por volta das 9h, e era minha segunda volta. Não estava estressado nem cansado.
Diário - Quando a discussão começou?
Motorista - Na saída do corredor de ônibus, no acesso ao terminal da Antônio de Carvalho. A Bento tem três pistas: na primeira, o motorista me deu acesso, mas estava congestionado. Quando o sinal abriu, o condutor do Palio estava na altura do eixo traseiro do ônibus. Ele estava distraído e abriu espaço. Ficou parado atrás, e eu consegui acessar. Quando ele viu que entrei, acelerou o carro e começou a pressionar, mas eu não tinha mais como voltar. A gente foi se ajeitando, e eu consegui acessar o terminal.
Diário - E o confronto se deu em que momento?
Motorista - Parei para o embarque de passageiros, ele passou por fora e parou na saída dos ônibus do terminal. Engrenou a ré e parou do lado do coletivo. Desceu do carro me ofendendo. Eu tentei me defender, expliquei, mas logo desceram três rapazes que estavam com ele no carro e os quatro vieram em direção ao ônibus. Eu desci e fui ao encontro dele. No que me aproximei, ele me deu um soco no rosto. E foi quando eu perdi a cabeça, perdi o controle. Não tenho nem como explicar. Só me dei conta do que estava acontecendo quando chegou a viatura da polícia.
Diário - Mas já desceu do ônibus com aquela barra de ferro na mão. De onde saiu aquilo?
Motorista - É uma haste de descanso, fica do lado do motorista para que o passageiro não fique em cima do condutor. Não sei como consegui arrancar aquilo. Achei que eles iam invadir o ônibus. Eles fizeram menção de entrar. Na hora, peguei aquilo por instinto de defesa. Minha intenção nunca foi usar contra o carro nem contra ele, mas depois que ele me agrediu, eu perdi a cabeça.
Diário - Que providências tomou?
Motorista - Fiz a ocorrência interna na empresa e fui a 15ª DP. Pedi encaminhamento para exame de corpo de delito. Vou entrar com ação judicial contra os quatro que estavam no carro.
Diário - Já tinha vivido alguma situação parecida antes em função do estresse do trânsito?
Motorista - Trabalho há 12 anos em coletivos, estou na Carris há quatro. Nunca me aconteceu algo parecido. Já houve situação de xingamentos, mas nunca alguém desceu do carro e me ameaçou. Nunca me senti coagido a ponto de ter medo de não conseguir me defender. Nunca me envolvi em conflito algum no trânsito.
Diário - Alguém te procurou para falar da existência desse vídeo?
Motorista - A mim, nunca procuraram. A pessoa que estava filmando estava numa linha da Unibus, mas não sei qual era o itinerário. Mas meu advogado vai tentar identificar quem fez o vídeo e divulgou, descobrir se tem interesse por parte de alguém nessa divulgação, e vamos acionar judicialmente. Queria muito que tivessem feito o vídeo desde o começo.
Motorista - A mim, nunca procuraram. A pessoa que estava filmando estava numa linha da Unibus, mas não sei qual era o itinerário. Mas meu advogado vai tentar identificar quem fez o vídeo e divulgou, descobrir se tem interesse por parte de alguém nessa divulgação, e vamos acionar judicialmente. Queria muito que tivessem feito o vídeo desde o começo.
Diário - Como ficou sabendo?
Motorista - Meu cunhado estava assistindo ao Jornal do Almoço, viu a reportagem e me ligou. Fiquei muito surpreso porque não comentei com ninguém da família o que aconteceu, porque eu não queria que tivesse acontecido, queria esquecer. Vou resolver por vias jurídicas.
Diário - Como tem sido a tua vida nesses dias depois da divulgação do vídeo?
Motorista - Estou tentando seguir minha vida normal. Estou de férias, com minha família, esposa, filho, pais. Mas estou sendo pré-julgado por apenas uma parte da história. As pessoas tem colocado coisas na internet me descrevendo como monstro, e isso tem me chateado. As pessoas não sabem o que aconteceu e estão me julgando. Nada justifica o que eu fiz, sei disso. Mas deveriam pensar antes de falar ou escrever acusações graves. Escrevem coisas como "imagina o que não faz em casa...". Estou casado há 12 anos e tenho um filho pré-adolescente. Tive educação do Interior, trabalhei na lavoura, aprendi muito a respeitar. Minha família nunca viu uma atitude assim minha. Quem me conhece, sabe que não sou assim. Meu filho tem 11 anos e tenta justificar para os coleguinhas na escola que perguntam: "teu pai é muito bravo?". Ele diz: "meu pai não é assim", mas é uma criança e não entende por que chamam o pai dele de monstro. E eu realmente sou uma pessoa calma. Mas perdi a cabeça.
Diário - Tu te arrependeu de ter reagido daquela maneira?
Motorista - Se eu pudesse voltar atrás, sei lá, talvez preferiria fechar a porta correndo risco de machucar alguém do que descer do ônibus. Tentaria me defender dentro do coletivo porque o final foi infeliz. Me arrependi porque os resultados dessa atitude foram prejudiciais a mim. Eu não queria ter me prejudicado dessa forma e ter passado a imagem de uma pessoa que não sou. Se ele não tivesse me agredido, eu não teria perdido a cabeça.
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